quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Caminhada




    Caminhava pela rua tão naturalmente que nem ao menos percebia, já havia passado da fase de reparar nos detalhes a sua a volta.
    Olhava para o chão, contava os passos, pensava em algo, “1, 2, 3, 4, preciso fazer compras, 1, 2, 3, 4...” Nada que, venhamos e convenhamos saia do normal.
     Mas, independente do que acabei de falar algo sim saiu do normal, mas também, se não tivesse saído eu não estaria aqui. Certo?
    Nosso protagonista tem como nome Oliver, 21 anos, futuro promissor e uma vida toda pela frente, o resto meus queridos, é detalhe.
    Bom, certamente como já deu para entender, creio eu, vocês já perceberam que nesse dia Oliver andava por um caminho que ele já faz há tempos, mas algo mudou. Oh! Sim, sim... Mas não vou estragar a surpresa dando dicas do final, até porque isto para mim não tem graça nenhuma e bom, só fará daqui algo muito previsível, antes que se irritem e saiam, eu continuarei ok?
    Bem, havia naquele dia alguém que diria eu, em comparação aos outros era singular, na verdade, ele estava sentado, era um maltrapilho, mas não poderia dizer se era um mendigo, um bêbado, ou alguém que estaria ali só para tirar uma com a cara das pessoas que passam por aquele caminho.
    Ainda acredito que seja a terceira opção.
    Quando Oliver passava em frente ao local onde ele estava o homem disse:
- Se continuar pensando tanto assim, sua cabeça vai explodir.
    Oliver se virou, levemente assustado, não que nunca tivesse sido abordado por uma pessoa como ele, mas não daquela forma, acredito eu.
- Como disse?
    O homem comia um sanduíche de presunto com queijo e não hesitava em falar de boca cheia, talvez até fosse de propósito.
- O que pensa?
    O jovem olhou ao redor, percebeu depois de muito tempo a rua que há muito tempo parara de perceber olhou para ele e continuou a andar, ignorando o velho.
- Vai me deixar falando sozinho?
    Oliver olhou para trás e o velho olhava fixamente para sua fisionomia. Oliver não disse uma palavra, esperava o que o maltrapilho poderia querer.
- Sabe, eu já fui que nem você, um pedante metido a playboyzinho.
Oliver mesmo se enraivecendo continuou quieto para saber o que o ele iria soltar. O velho analisou sua fisionomia novamente e então continuou:
- E se quer saber, não sinto falta daquela época, o que você da pra mim? Acha que sou o que? Um bêbado? Um mendigo?
    Olhou novamente para Oliver e leu a resposta em sua expressão. Soltou uma gargalhada e prosseguiu:
- Já que está com tanta vontade de saber o que tenho a falar, eu lhe aconselharia a sentar-se aqui, vou lhe contar uma história, não, não, um fato.
    Oliver começou a sentir curiosidade, queria saber o que e quem era aquele homem para poder dizer tão facilmente a respeito de sua pessoa.
- Fique ai então, já vou começar. Nasci a sessenta e cinco anos atrás, era o xodó de todos na família, nasci ao contrário do que você pensa em uma família de classe média, não sou pobre, senão a primeira coisa que lhe pediria seria uma moeda...
    Oliver então se aproximou mais do homem, ele percebendo o movimento deu um sorriso e continuou sem hesitar:
- Mas, voltando, vivi uma infância um tanto quanto longa, eu não queria ser criança, eu queria ser independente, eu queria namorar. Bom, evidentemente eu cresci me tornei popular no colégio, todos me conheciam. Mudei de escola, por um tempo me senti um nada, mas depois eu voltei a ser o que eu sempre fui. Comecei a namorar boa época aquela viu? Mas, depois comecei a me preocupar mais com o futuro do que com o meu presente, não agüentava mais um namoro e comecei a faculdade, fiz cursinho, ia bem na faculdade, arranjei um emprego, fui promovido no emprego, eu tinha mais ou menos a sua idade, dinheiro não era mais problema pra mim como antes... Mas, quando será à hora de parar? Quando serei criança novamente? Quando poderei brincar de esconde-esconde ou dar meu primeiro beijo? Quando terei minha primeira namorada? Quando dormirei todos os dias até o horário do almoço? Quando? Aonde?
    Oliver já ouvia atento. E o velho a cada nova expressão do rapaz sabia o que ele pensava.
- É, passou rápido, passa rápido.
    Oliver então finalmente decidiu dizer algo:
- Como se chama?
    O velho o analisou antes e então respondeu:
- Isso é o que menos importa, assim como também não me importa o seu nome.
    Oliver continuava confuso, então o velho sorriu e disse:
- Eu escolhi estar aqui, as coisas boas não voltam mais...
- Por que escolheu isso?
- Não fico aqui sempre, só nas minhas horas vagas, para poder ver o reflexo do que eu já fui um dia, agora se me permite, tenho mais o que fazer.
    Levantou-se com o resto de seu sanduíche colocou seu chapéu que até então estava no chão, deu uma última dentada e foi embora.
   
#GessycaToledoNetto

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