quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Desabafo







      Sou tão normal quanto qualquer um, sou tão especial quanto qualquer pessoa que ande pela rua, mas não deixo de ser singular, não deixo de ser eu, não deixo de ser o que ninguém pode ser.
       Meu nome, é Janie, sou típica menina, com os meus quinze anos, preocupada com vida e com o que ela me reserva. Sempre mantive a cabeça erguida, nos meus piores e nos meus melhores momentos. Sempre soube o que era bom e o que era ruim para mim, nunca desandei. Mas, antes de tudo, saibam que não sou perfeita. Se sou assim, é porque já errei muito em minha vida, só que a cada erro um acerto. E de uma coisa eu tenho certeza, a gente pode errar uma vez, mas acertamos infinitas vezes.
     Mas, se estou aqui agora é porque cheguei a um momento em que eu não consigo mais. Não sei o que fazer.
     Sabe, eu sempre fui muito parecida com meu pai, na verdade até demais.
     Eu me lembro, que quando era pequena, ele vinha me acordar e me enchia de beijos, ele brincava comigo e então me fazia cócegas. Viajávamos e ele sempre cuidava de mim, ia à piscina comigo e estava sempre do meu lado. Pois é, eu ainda me lembro.
     Ele era a minha metade, eu o amava sem comparações e não era por menos, eu era uma criança e ele via como era ser um pai pela primeira vez. Ele sentia como era a responsabilidade e o amor por um filho.
     Não sei bem, quando foi que as coisas começaram a mudar.
     Bom, duas coisas mudaram na verdade, eu cresci e comecei a tomar consciência e ele, bem... Ele mudou, não era pra menos, mas ele mudou drasticamente e radicalmente.
      Não era mais amoroso, não brincava mais comigo, não me beijava mais e nem me abraçava mais.
     Uma conversa com ele era um monólogo, porque somente ele pode ter a razão. Ele começou a ir atrás de discussão, qualquer mínimo detalhe era motivo para briga e minha mãe, coitada, é a que mais sofre com tudo isso. Sofreu tanto, que começou a ter problemas psicológicos e a única coisa que ele sabe fazer é criticá-la. Jurei para mim mesma, que nunca mais tornaria a brigar com ela, hoje, não tenho vergonha de chamá-la de melhor amiga.
     Perdi as contas de quantos hematomas já não fiquei por causa dele, perdi as contas de quantas palavras cabeludas já não foram ditas diretamente a mim com a intenção de ofender, perdi as contas das vezes em que ele usou o nome “pai” de maneira equivocada.
     Houve nisso uma coisa que eu nunca fui capaz de contar, porque nunca aconteceu, nem quando eu era criança, nem agora e muito provavelmente, nem daqui o resto da minha vida. Ele nunca chegou para mim e disse “eu te amo, filha”. E eu sinto, eu sinto demais por isso. Eu sinto como se ás vezes ele não gostasse de mim. Mas, eu sei que gosta, à maneira dele, mas gosta.
     Houve uma vez, que eu disse para minha mãe que ele não me amava, ela para tentar resolver a situação foi falar com ele e ele veio falar comigo. Foi um dos maiores sermões da minha vida. Mais um hematoma.
     Não consigo conversar com meus amigos normalmente por sua causa, sempre meço as minhas palavras, porque tenho medo. Tenho medo de que ele me machuque mais do que já me machucou. Tenho medo de tudo que é referente a ele.
      Tantas vezes já me chamaram para sair e eu disse que ia perguntar para ele e eu nem perguntei, porque eu fiquei com medo. Quantas vezes eu ficava toda feliz porque ia à casa de uma amiga ou sair com tal e ele me vinha em cima da hora e cancelava tudo por um motivo que nunca me foi explicado.
     Teve um dia que eu resolvi escrever uma carta para ele, falando que independente das brigas, eu o amava muito e relembrei dos nossos momentos de quando eu era menor. Eu entreguei a carta para ele em mãos, ele terminou de ler e disse: “pra que isso?”.
     Aquilo foi uma das piores coisas, porque ele não me machucou por fora como normalmente faz, ele me machucou por dentro e deixou uma cicatriz que até hoje não foi curada. Essa que espera que ele um dia consiga curá-la. Mas eu sei que não.
     Não vou negar ele sabe ser um bom pai, assim como nem sempre eu consigo não brigar com a minha mãe, mas eu e ela temos momentos tão bons juntas que uma coisa releva a outra, o que não acontece com ele.
     Hoje, a gente não se fala mais, com um aperto enorme no peito eu escrevo isso. Por que quem sabe o que já passamos, o que já vivemos, sabe que o que acontece é extremamente triste.
     Assim como tem pessoas que esperam por algo que nunca vai acontecer, assim como tem pessoas que acham que tudo pode mudar. Eu ainda tenho esperanças.
     Por que eu sinto falta, eu sinto falta do que ele nunca vai ser. Mas, ele é meu pai e talvez quando ele se der conta seja tarde demais. Mas, por enquanto escrevo, porque eu não tenho a quem ocorrer mais. Eu podia estar agora conversando com ele, abraçando ele, mas não dá.
     E choro enquanto escrevo porque não sabem o quanto sofro com isso. Pois ele é a pessoa que eu mais odeio e também é a pessoa que eu mais amo em toda a minha vida. E ele ainda é a minha metade. E o sentimento, pode até ficar calado, mas não muda.
     Ele sou eu e eu sou ele. Juntos ou separados.

#GessycaToledoNetto

Nenhum comentário:

Postar um comentário