quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Recordações de quem sente saudade


    Eu era pequena, vivia pelas minhas aventuras. Nossa! Como era bom. Hoje vivo por outras coisas. Vivo pelo futuro e não pelas minhas alegrias, talvez eu chegue a ser o que todos sonham, consiga a vida perfeita e então, eu não serei feliz.
    Eu brincava, ah, como eu era brincalhona! Eu corria sem medo de me sujar, eu achava que existiam monstros na floresta e que eu era uma heroína que acabaria com todos eles. A floresta era o meu quintal e os monstros, posso dizer que com o passar do tempo eu os eliminei totalmente.
    Eu cresci, eu crescia tão rápido, todos os parentes que me visitavam sempre falavam a mesma coisa, “você cresceu ou fui eu que diminui?”, eu gostava, pois era claro que eu estava crescendo e o que eu mais queria era crescer, ser como todos os “grandes” que me rodeavam, poder fazer o que eles faziam.
    Coisa besta! Eu devia ter vivido esta fase melhor! Eu devia ter brincado de boneca por mais tempo, eu devia ter aproveitado mais.
    Mas não.
    Quando me vi, já estava escrevendo diários, aqueles que eu quase nunca escrevia, aqueles que eu tinha só para falar que tinha, aquele ao qual recebia os meus segredos e que eu, por incrível que pareça, perdia só para que alguém o pegasse e o lesse.
    Não demorou muito para que as minhas bonecas finalmente fossem deixadas para trás, a tecnologia começou a tomar espaço em minha vida. Eu percebia que estava virando mulher, eu percebia porque eu mudava. Sempre que me olhava no espelho havia algo novo, fosse uma espinha ou algum pelo. Sentia medo, eu queria tanto crescer que aquilo se tornou algo estranho. Por incrível que pareça, eu estava com medo de mudar.
    Mas sempre muda, na vida tudo se transforma.
    Os amigos, minha melhor fase, por mais que tente exatamente distingui-los, eu nunca conseguiria. Eles foram os que me trouxeram meus melhores momentos, minhas melhores lembranças e os meus melhores dias.
    Eu nunca ia à escola para estudar, claro, era uma das coisas as quais eu devia fazer lá e fazia, mas se eu acordava toda santa manhã para ir para lá, era por eles.
    Eu reclamava, eu falava que odiava a escola, mas eu não conseguiria ficar muito tempo longe, eles eram a minha base e ali era o nosso ponto de encontro.
    Era só curtição, brincávamos, ríamos, cada dia descobríamos algo novo. Eu não tinha medo de ser feliz. Ainda não.
    Logo mudou, cada um foi para o seu lado, viver o agora não era mais o nosso objetivo, já pensávamos no futuro, pensávamos no que seríamos, pensávamos como seriamos.
    O que veio depois disso, coisas boas e ruins, não são tão fortes quanto essas.
    Porque mesmo que eu conte aqui tudo o que me aconteceu, todas as minhas risadas, todos os meus sofrimentos. Tudo.
    Eu estaria somente relembrando.
    Reviver é impossível, a gente vive as coisas com a maior intensidade possível, a gente aprende, a gente erra, e então, tudo isso fica guardado, para que nunca esqueçamos o quanto um dia, já fomos felizes.
    E por incrível pareça, colocamos a culpa no tempo.
    O tempo passa, é só isso que ele faz, ele não tem a capacidade para voltar, nem para parar, ele só passa, ele só continua, ele só vai em frente.
    Nós que devíamos parar de colocar a culpa no tempo que passa e começarmos a fazer do nosso tempo, um tempo melhor, um tempo inesquecível.
    Hoje parada aqui, e relembrando tudo isso, percebo que eu só deixei o tempo passar, e me arrependo, me arrependo de coisas que não fiz, de momentos que podiam ter sido tão bons que eu acabei deixando eles simplesmente, assim como o tempo, passar.
    Sinto falta.
    Sinto falta, isso faz de mim alguém normal.
    Sinto falta de coisas que nunca achei que chegaria a sentir falta, sinto falta de certos momentos que eu preferiria nunca ter vivido.
    Sinto falta de mim, sinto falta de você.
    Sinto falta de quando as coisas não tinham a mínima importância.
    Hoje, relembro coisas que por algum momento eu esqueci.
    Coisas que me marcaram o suficiente para que eu, em algum momento consiga relembrá-las.
    Pois, o destino nos traz pessoas e momentos, o tempo faz com que ele fique para trás, mas nenhum dos dois conseguem nos fazer esquecer essas pessoas e esses momentos.
    Então viva, viva até que um dia o tempo finalmente consiga ganhar de você. Ele pode até ganhar, mas sempre haverá outra história e outras memórias.
    Eles nos dão oportunidades, nós só temos que fazê-las valerem à pena.

#GessycaToledoNetto

Nenhum comentário:

Postar um comentário