quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Uma última palavra


   Vemo-nos no ano que vem, eu dizia sempre, no final de cada comemoração, cada magnífica comemoração que vocês organizavam para comemorar os meus anos de vida, os anos que chegavam, mas principalmente, aqueles que se acumulavam.
    Cada ano via seus olhos se enchendo de orgulho. E eu fazia de tudo para aproveitar ao máximo. O que, por sinal, não era difícil. Eu ria, eu brincava. Eu era feliz. E sou!
    A maneira como cuidavam de mim, como sempre me respeitavam, estará eternamente guardada em meu coração. Pois todos os simples gestos valiam muito!
    Deixarei contigo as recordações, todas aquelas boas recordações. Os Natais que passávamos em família, os feriados em que vinham me visitar, os meus aniversários que foram organizados por vocês tão alegremente, os dias das mães que comemorávamos em casa... Enfim, somente as boas.
     Não vou pedir para que esqueçam, mas espero que não levem com vocês esta última semana. Foi uma semana difícil não é? Vocês saíam de seus trabalhos, para me fazer companhia, vos sois muito grata! Até, pelo tempo em que esperaram por notícias, sejam elas boas ou ruins. Estavam ali, e isto valeu muito!
    Peço-lhes também, que não vejam este dia como uma tragédia, é um marco. O final de uma longa vida que foi muito bem vivida, muito bem amada. Guarde com vocês as minhas lembranças, eu levarei a de vocês até a eternidade.
    Fui vencida, estava fraca e então me levei daqui. Mas com a cabeça erguida, sabendo que cumpri todas as minhas funções.
    Eu sei pelo que passam, afinal, em minha vida, em minha longa vida, já fui filha, já fui esposa e, ao que não me canso de agradecer, já fui mãe.
    Quero que saibam também que eu não os culpo por chorar, chorem, chorem! Mas nunca guarde nada para si. Não estou aí para acalmá-los, mas os dou força, força para continuar esta vida, que eu mesma sei que é maravilhosa e sofrida. 
    Enquanto choravam por cima de mim, passavam as mãos em meus cabelos, beijavam minha mão e sussurravam baixinho, mais para si mesmos, até como um reconforto, me pedindo a benção, eu estava ali. Guardada em seus corações.
    Eu os via, e me emocionava. Mas, minha história já foi escrita em tinta de ouro, meu papel já foi interpretado e a peça acabou com aplausos.
    Agradeço o carinho de todos! Nunca se esqueçam que os amo. E estarei aí sempre para reconfortá-los, olha para o céu, olha para as estrelas, as coisas mais lindas do mundo nos trazem as melhores lembranças.
    Estou com Papai agora, estou bem, estou em paz. Estou orgulhosa de mim e de todos vocês. Irei rever todos aqueles que não vejo há muito tempo, irei finalmente estar junto dos que amo. Lembrem-se, eu não os deixei, eu só não tive mais capacidade de seguir em frente. Espero que entendam.
     Mas, vocês mesmos sabem não é? Vocês mesmo diziam, Papai sabe o que faz. Vou lhes contar uma coisa, Ele sabe. Ele sabe muito bem.
     Eu batalhei, e agora é hora de descansar. Espero que não nos vejamos em breve.
      Valeu a pena viver.
      Deus abençoe a todos!

Regina de Assis Toledo (07.09.1910 - 01.03.2010)

#GessycaToledoNetto

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