quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Faixa Negra


    Depois que fecho os olhos, nunca sei se voltarei a abri-los.
    Sou palestino.
    Meu país, a Palestina, está em conflito com Israel desde o início do século XX.
    Em 1947 a ONU recomendou a cessão de 55% da Palestina ao novo Estado Judeu, Israel – apesar do fato de aquele grupo representar à época cerca de 30% do total da população e possuía menos de 7% da terra. 
    Os habitantes palestinos resistem como podem à contínua ocupação militar israelense e o confisco de propriedades fundiárias na Faixa de Gaza. Estes espaços, reduzidos em 22% do que foi decidido pela ONU em 1947, deveriam se tornar a Palestina.
    Nasci e cresci nessa região da Faixa de Gaza.
    Tenho medo, vivo em meio ao sofrimento. Quando menos se espera um novo ataque acontece e nós nem ao menos temos chances de revidar.
    Já perdi amigos, já perdi parentes. Toda vez eu penso: “o próximo serei eu”
      Quando fecho os olhos a noite tentando dormir os gritos, os barulhos das bombas, das coisas sendo destruídas, me voltam à cabeça. Não consigo dormir.
     Sinto fome, muita fome.
    Enquanto muitos rezam para que tudo acabe logo, buscando esperanças que um dia todo esse sofrimento finalmente acabe.
    Eu choro, porque não tenho mais para quem rezar.
    Enquanto o ego das pessoas poderosas que se dizem líderes não baixar, este genocídio continuará.
    Mas, vai acabar. Vai acabar quando o mundo finalmente perceber o que acontece por aqui.
    Eu sei que não viverei o bastante para poder contar-lhes a história da minha vida. Mas, ela sempre se resumiu apenas nisso, na fome, no sofrimento, na angústia e na ambição daqueles que vêem o que acontece e simplesmente ficam parados.
    Eu na verdade, ainda espero que eu possa contar o quão árdua foi minha vida para os meus netos, mas receio que não acontecerá.
    E eu tenho certeza que isso não acabará até que alguém ceda. E eu tenho certeza que isto não vai acontecer.
    Mas, se quer saber, não estou em condições de ter certeza e de saber de mais nada.
    Não sei nem como será meu amanhã.
    Só sei que nada sei.
    Só sei que quero acordar desse pesadelo. Por favor, me ajude.   

#GessycaToledoNetto

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